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A frustração dos nossos filhos

Inevitável. A frustração é um sentimento que permeia a vida, impossível de evitar pois nunca se sabe de onde virá. Um voo cancelado? O caixa do supermercado que vai trocar o rolo da máquina justo na tua vez? Um fora do namorado? Uma prova complexa, injusta? A garota que diz que teu cabelo é feio?

Precisamos aprender a lidar com isso e esse aprendizado se dá no dia a dia, numa vida inteira. Não é algo que se conclui pois a vida irá nos testar mais e mais, sempre.

Paciência para conversar, acolher, ajudar nas reflexões e isso é trabalhoso.

Quero contar a nossa experiência aqui em casa com as frustrações.

Logo eu percebi que uma frustração desencadeava emoções diferentes em cada um dos meus filhos. Bernardo perante uma frustração mostrava-se irritado, bravo e surgia a raiva. Júlia se retraía e logo surgia o sentimento de inferioridade - eu não consigo mesmo, eu não sou boa nisto.

A frustração aciona esse gatilho que além da raiva, do emburrar-se pode acionar esse sentimento paralisante e conformista do não é para mim, não consigo, sou ruim mesmo ...

Então havia disponibilidade para ouvir, apenas ouvir e só depois a gente conversava e muito.

Exemplos:

Minha filha é de constituição miúda, baixa estatura, motivo para as chacotas como você se parece um anão de jardim, ou como certa vez uma funcionária da escola falou para ela "você esqueceu de crescer? "

Ela chegou em casa chorando. Ouvi-a e não mostrei reatividade do tipo "vamos lá na escola que eu quero mostrar para essa funcionária...

Conversamos sobre as pessoas, e muitas vezes nós mesmos, repetirmos falas sem refletir realmente o que elas querem dizer e isso pode ferir. A intenção da pessoa não é te machucar, ela pode mesmo querer uma interação com você, um puxar papo, mas a coisa sai torta.

Hoje ela lida muito bem com esses comentários, com sua aparência que inclui ser baixa; foi e ainda é uma caminhada.




Assim como Bernardo que na frustração se irrita facilmente. Muitas vezes peço para ele se acalmar primeiro, ir para o quarto respirar fundo algumas vezes ( e ele faz isso sim! ) e só depois o escutamos.



Bernardo emburrado por não querer dançar!


Professores deviam ganhar o nobel da paciência!


Acho importantíssimo darmos atenção às nossas emoções, e isso requer tempo, disposição, acolhimento.

Meus filhos e nós, pais vamos seguindo pela vida aprendendo, a cada dia surge algo.

Para nós pais, um cabelo que nos cortaram mal é motivo para longas risadas, dali a duas semanas já cresceu novamente. Para eles é uma turbulência daquelas!

Essa é a nossa experiência, porém olhando ao redor, mesmo olhando os noticiários, tenho certeza que de a família não está cuidando desse aspecto na vida dos filhos.

O que são todos esses assassinatos que namorados, maridos cometem ao findar uma relação? Ou seja não se aprendeu a lidar com essa dor e respeitar a decisão do outro.

Vivemos uma epidemia de depressão entre crianças e jovens e também deveríamos olhar o quanto eles não estão conseguindo suportar as dificuldades.

Dói muito nos pais, nos avós ver seu querido filho, seu amado neto sofrer. E muito por amor fazemos, e até erramos também por amor, mas há dores que não poderemos tirar-lhes, mas ainda assim podemos estar ao lado, segurando a mão.

Quando aqui em casa surgem frustrações que eu chamo de chiquilentas, "ah mas eu queria tal celular que foi lançado..." eu conto uma historinha que vem do zen budismo, que nem precisa ser verdade, precisa apenas nos chacoalhar ).

( Aviso: é forte, é nojentinha, se você for sensível, não leia )



É tradição em muitos países asiáticos, que os monges saiam para esmolar comida. Essa prática espiritual os torna humildes e eles também praticam para possibilitar às pessoas que façam suas doações, pois segundo sua crença, isso é benéfico e gera méritos para elas.

Um monge tem que aceitar qualquer coisa que se coloque em sua tigela.

Certa vez, esmolando comida, um leproso aproximou-se do monge e quando foi colocar arroz em sua tigela um pedaço de seu dedo caiu lá dentro.
O monge o comeu.

Participando do projeto Na Casa da Vizinha organizado pelas amigas Tê do Bolhinhas de Sabão para Maria e Cris Philene do Prosa de Mãe





Comentários

  1. Ana Paula, que amor ver a carinha emburrada do Bernardo...Lindas tua e Julinha! Quanto às tuas palavra? Irretocáveis e frustações bem tratadas e conversadas, ensinam a crescer e são até boas professoras... Ainda hoje, aos 70 anos as tenho e dai? Vou fazer o que? Temos que com elas lidar e saber ter paciência, equilíbrio e muito cuidado na hora pra não "meter os pés pelas mãos",rs..
    Novamente um prazer te ler e sempre trazes belas reflexões, importantes, como a historinha do zen budismo. Gostei muito! bjs, lindo dia! chica

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  2. Ana, nada é facil. Nem pra eles nem pra gente. Doi neles a frustração. Mas doi muito na gente vê-los assim...
    Aqui Maria por enquanto (pq tudo são fases e ela está bem novinha), fica também como Bernardo. Brava e irritada e as vezes chora.

    É triste esses apelidos, esses comentários.. Confesso que fico muito chateada com a falta de sensibilidade dos outros... Me irrito com isso... Mas é hora de saber lidar pq o mundo muitas vezes é insensível. As pessoas falam muito pelos cotovelos.

    Importante é reforçar a eles a importancia que eles tem independente de outras coisas e claro, valorizar o que eles são.
    A história Zen mesmo mostra isso.. Existem coisas muito maiores e mais difíceis do que as que eles enfrentam no dia a dia...

    Obrigada minha querida por mais um dia que você enriqueceu nossa BC. É sempre uma alegria imensa.

    Beijos, Tê e Maria ♥

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  3. Oi Ana Paula!

    Sim, sou solidária aos professores também quanto ao nobel da paciência. rs Não são só os pais a serem experimentados neste ofício. Os professores também precisam desta arte.

    Todavia, despojados de bom juízo temos visto muitos, infelizmente. Quando se considera agradar mais que educar, desprotege-se.

    Gosto da sua linguagem amorosa. A vida fica mais fácil assim.

    Beijo!

    Renata e Laura

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  4. Amiga querida... Aqui tenho um misto de seus dois filhos... Ora meu menino emburrado, bravo, por outras vezes ele fica triste e com sentimento parecido com os da Júlia.
    E... Lá vamos nós!!
    Acolher, apoiar, conversar!
    E ensina-los a aprender com a frustração... Superar, encarar e dar a volta por cima!
    Amei a escolha das fotos as carinhas retratam bem os momentos!
    Obrigada por vir conosco nessa prosa.
    Bjs, Cris

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  5. Ana, realmente as frustrações chegam e a gente vai administrando conforme a essência de cada pessoa, conforme a importância de cada assunto...
    Realmente não é fácil, e tentar trazer essa leveza nos dias, é algo que vale a pena...
    E como você bem disse, esse assunto é seríssimo e as pessoas estão ignorando, por isso diariamente tem morte de namorados, marido que mata mulher, filhos que matam os pais, e assim por diante...
    Um assunto importantíssimo, que deve fazer parte da rotina de conversa e educação familiar...
    Amei passar por aqui...
    Lindas fotos.
    Beijos doces,
    Ju

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  6. Olá Ana, que bela participação com sua experiência nesta vida.
    Acompanhar os filhos e lhes descobrir o senso de humor e suportabilidade diante adversidades é uma arte, que dá bons retornos. Quando se conhece fica mais fácil,
    as ajudas e apoio.
    O fechamento com um toque de humor foi incrível com este monge desatento.
    Precisamos mesmo de muita serenidade, humor para enfrentar as tiradas erradas, a falta de traquejo das pessoas e o confuso expressar.
    Um bom fim de semana para vocês.
    Meu terno abraço amiga.

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