"Eu também desenhava a maneira como meu pai uma vez olhou para um pássaro caído de lado no meio-fio perto de nossa casa. Era o Shabbos [ Sabbath ], e estávamos voltando da sinagoga.
"Está morto, papai?" Eu tinha seis anos e não conseguia olhar para ele.
"Sim", eu o ouvi dizer de uma maneira triste e distante.
"Por que ele morreu?"
"Tudo o que vive deve morrer."
"Tudo?"
"Sim."
"Você também, Papai? E a Mamãe?"
"Sim."
"E eu?"
"Sim", disse ele. Então acrescentou... "Mas que possa ser somente depois de viver uma vida longa e boa, meu Asher."
Eu não conseguia entender. Forcei-me a olhar para o pássaro. Tudo vivo seria, um dia, tão imóvel como aquele pássaro?
"Por que?", perguntei.
"É assim que o Ribbono Shel Olom fez o seu mundo, Asher."
"Por quê?"
"Para que a vida pudesse ser preciosa, Asher. Algo que é seu para sempre nunca é precioso. *
"Está morto, papai?" Eu tinha seis anos e não conseguia olhar para ele.
"Sim", eu o ouvi dizer de uma maneira triste e distante.
"Por que ele morreu?"
"Tudo o que vive deve morrer."
"Tudo?"
"Sim."
"Você também, Papai? E a Mamãe?"
"Sim."
"E eu?"
"Sim", disse ele. Então acrescentou... "Mas que possa ser somente depois de viver uma vida longa e boa, meu Asher."
Eu não conseguia entender. Forcei-me a olhar para o pássaro. Tudo vivo seria, um dia, tão imóvel como aquele pássaro?
"Por que?", perguntei.
"É assim que o Ribbono Shel Olom fez o seu mundo, Asher."
"Por quê?"
"Para que a vida pudesse ser preciosa, Asher. Algo que é seu para sempre nunca é precioso. *
*My name is Asher Lev. Nova York 1972
Começo minha participação nesta blogagem, proposta pelas meninas Tê e Cris dos blogs Bolhinhas de Sabão para Maria e Prosa de Mãe com esta pequena história que encontrei em um livro e que me tocou profundamente... "para que a vida pudesse ser preciosa".
O marco inicial de nossa quarentena foi uma conversa difícil, necessária e preciosa, em nossa sala.
Nós quatro, olhos marejados, vozes que embargavam, uma respiração funda para tomar fôlego, coragem e seguir.
Marido atua diretamente, ou como dizem, na linha de frente, no covidário, na linguagem médica.
Falamos de morte, de despedidas que mal podem ser feitas, da ausência de visitas e também contas bancárias e senhas e sonhos de devem seguir.
A tecnologia é nossa aliada para amainar o distanciamento, já que não convém voltar para casa e expor-nos a riscos.
Depois que nos despedimos, Bernardo disse mergulhado em tristeza - " por que o pai não dá fuga?"
"Bernardo, o pai ama o que ele faz, ele ama trabalhar no hospital, nunca ele daria fuga", disse a Júlia.
É um entendimento tão verdadeiro do pai. E não só do pai, do marido. São inúmeros os profissionais da área de saúde - médicos, enfermeiros, pessoal da cozinha, da faxina, da lavanderia hospitalar e por aí vai. Estão lá, entre hospitais de ponta, hospitais onde faltam equipamentos de proteção, mas eles estão lá.
Júlia finalizou sua fala com esta frase: " Se o pai morrer, a gente sabe que ele estava feliz fazendo o que mais gostava que é atender".
Seguimos firmes. O riso se faz presente. Estamos atravessando esse tempo de pandemia juntos. Não sei dizer se já avançamos na rota, se estamos indo para o final, se haverá reviravoltas. Estou praticando ativamente o que acredito - estar ancorado no momento presente nos traz serenidade e estabilidade. Imaginar futuros e possíveis situações só vai gerar angústia. Desejar um passado, nos levará à uma melancolia.
É o que temos e estamos fazendo o nosso melhor, dia após dia.
A rotina da Júlia de estudos começa às sete da manhã e segue até o fim do dia. Ela gosta; entre uma aula e outra, uma conversa com as amigas pelo celular.
O irmão tira as dúvidas que surgem e isso é maravilhoso, porque se dependesse de mim... ai, ai, ai!
Aproveitam para se divertir e gargalhar - ou a dúvida só piora, ou é um erro tão bobo e eles se divertem.
( sempre bom um clic nessas horas! )
Quarentena sem quintal, não é nada fácil. Mas não é que eles dão um jeito?! Bola de meia e a diversão está garantida.
Eu me divirto com as caras e caretas da Júlia!
Nesta semana completamos 03 meses de quarentena.
Eu me sinto mais cansada. O Bernardo ficou um tempo sem aula online e assim podia me ajudar bastante, inclusive com o mercado. As aulas dele voltaram e também é o dia todo, muitas vezes adentra a noite. Diferentemente do que vejo na internet, as pessoas com mais tempo, lendo mais, aproveitando para aprender coisas diferentes, vendo muitas lives, para mim não está sendo assim. Mas também sinto algo muito bom por estar conseguindo me manter equilibrada, serena e transmitir isso para as crianças, trazendo uma qualidade de leveza para nossos dias.
Eles falam da saudade dos amigos, da família reunida, mas eu mesma me surpreendo ao vê-los calmos, sabendo da necessidade de respeitar esse isolamento.
Embora já se comece a ter uma flexibilização e maior abertura do comércio, ainda não temos uma vacina e nem remédio que cure a covid-19 e continuamos a, lamentavelmente, ter muitas mortes.
Esse tempo juntos tem sido muito frutífero para nos ouvirmos mais, conversarmos sobre a morte, que nos faz valorizar mais a vida, as crises políticas, o escancaramento do racismo, e assim vamos permitindo que as surpresas da vida nos tomem inesperadamente, como a pequenina flor do cactos - a única planta da casa Tê - que assim nos surpreendeu e despertou nossa gratidão!
Vou aproveitar para deixar o registro de uma época, como diz marido, isso vai virando história.
Um tempo em que saíamos de máscara.
Que logo possamos respirar sem medo,
sentir o vento no rosto
e lembrar que a vida é preciosa.
Obrigada meninas!
Linda Ana, bom dia! O que dizer dessa postagem encantadora! Fotos, relatos, a história do começo, a alegria dos meninos, a coragem de ver o pai partir... a sua força!
ResponderExcluirTudo lindo e motivador que deu vontade estar no meio de vocês...
Quanta doçura!
Sim Ana, são tempos difíceis, sabemos. O trabalho redobra, a angustia e ansiedade muitas vezes vem, mas temos sempre que olhar do lado, pra cima, pra baixo e ver que estamos em situação favorável em nossa casa que é nossa riqueza...
Vamos levando como tem que ser... olhando com compaixão aos que sofrem... pedindo para os que precisam estar na linha de frente - peço sempre pelo seu esposo.
E assim, tirando proveito dessa reunião com nossos queridos, torcendo para que tudo acabe e retornemos a vida normal... E o que é normal?
Lindo lindo! Obrigada mais uma vez pela participação e por esse enriquecedor depoimento. Encheu os olhos e coração!
Beijos,
Tê e Maria 🖤.
Nooooooooooooooossa,Ana Paula!
ResponderExcluirEmocionante e tão tocante desde o texto escolhido pra iniciar a participação!... E o que te dizer sobre teu marido? Sobre o distanciamento necessário dele? Sobre a boa compreensão dos teus filhos com relação a ele. E assim estamos todos, com as aulas on line em casa, a chatice dos dias iguais, mas tentando achar motivos pra nos arejar a cuca... Seguimos e vamos em frente.
Tomara isso acabe o mais rápido possível! Adorei te ler! bjs, chica
Adorei as fotos todas também. Que isso fique logo na história de vida! bjs
ResponderExcluirBom dia, Ana Paula!
ResponderExcluirViver nos inspira cuidados neste mundo tão cheio de perigos aparentes ou invisíveis que impactam nossas vidas.
Todavia, a serenidade nos confere responsabilidade para discernir o que é precioso, conforme você ressalta, do que precisamos literalmente manter do lado de fora do coração.
Muito importante a sua participação!
Beijo!!
Renata e Laura
Boa tarde de paz, querida amiga Ana Paula!
ResponderExcluirMuito linda e completa suas andanças na quarentena..
E muito bom e saudável quando temos uma família completa em casa! Que diferença faz!
Mesmo com o esposo e pai na linha de frente, a espera da chegada é animadora.
Vi aqui o retrato de uma família feliz, interação entre os irmãos, afinco aos estudos.... E muito mais.
Uma verdadeira maratona que alegra o 💙 acompanhar, amiga!
Que Deus proteja seu esposo e a família toda!
Nunca meditamos tanta na efemeridade da vida... Antes, parecíamos viver eternamente....
Tenha uma ótima semana!.
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Aninha, sempre enchendo meu coração de amor.
ResponderExcluirNão conhecia a história inicial, mas sinto exatamente isso, quando cuido, aprecio e aproveito cada segundo do meu filho, da minha vida, da minha família, estou lembrando e respeitando a preciosidade e passageira vida que passa...:
.
Iniciou o post lembrando-nos da vida que é preciosa e finalizou com gratidão.
Exatamente isso que tenho buscado viver e alimentar a alma, dessa valorização e preciosidade que é a vida.
Estou como você, com os dias bem cheios de trabalho, mas com gratidão e muita leveza, por isso a família acompanha os dias assim, nessa tranquilidade e paz dos dias...
Que Deus abençoe e guarde o marido, e todas as equipes e pessoas dos hospital, onde enfrentam como tem que ser, com amor, coragem e dedicação... Acho que isso é a vida, a gente enfrentar os dias, os desafios, o desanimo, enfim, tudo que chega com coragem, humildade e gratidão...
Amei sua postagem, confesso que não tive a coragem de compartilhar mais detalhes, porque sinto que é difícil compreender a paz que sinto, mas já chorei muito e estudei também, para aprender a elevar a alma, o SER...
Os dias estão cheios e puxados, mas sempre alimentamos a alma de acolhimento, amor, paz... Temos sim, empatia pelos que sofrem, mas confesso também, que não assistimos nada que entristece a alma, porque cria ansiedade e o futuro só pertence a Deus, então, de nada adianta criar preocupação, ansiedade, medo...
Alimentamos sempre o amor, a responsabilidade, o compromisso. diário...
Amei sua postagem, seguimos aqui na fé, nas esperança de dias melhores...
Lindas fotos, por aqui estamos se virando também, e concordo com vc, as vezes um quintal faz falta, mas a gente improvisa, com certeza...
Beijinhos no coração,
Ju
Bom fim de noite Ana!
ResponderExcluirBom ver a garotada levando este isolamento com graça e responsabilidade com os estudos.
Como ficou emocionante ver o marido se empenhar sem fuga de sua missão e que os filhos
sintam orgulho de saber de sua responsabilidade acima do medo da morte e ou do virus.
Reinventar é a palavra, assim como isolar por amor.
Que cada dia possam sentir mais fortes para vencer esta pandemia. e seguir nossas vidas, ainda que seja de modo diferente, pois mutias coisas demorarão para uma normalidade.
Gostei Ana.
Lindos estão os filhos.
Abraços amiga já 10 anos em interações.
Um bom lindo fim de semana em casa.
Olá, Ana Paula!
ResponderExcluirA vida realmente é preciosa, por isso merece que vivamos com atenção nos detalhes daquilo que realmente importa.
Em casa tenho filha e genro que trabalham na área da saúde. No início fiquei muito preocupada, principalmente por conta dos netos, mas agora sigo mais tranquila e confiante..
Como sempre, seu post está cheio de palavras que encantam e me fazem refletir.
Que Deus nos abençoe a todos.
Um abraço com carinho,
Sônia