A fotografia foi feita no último final de semana de setembro, quando minha filha foi convidada a participar como mediadora de um evento na escola chamado Fórum Social. O evento foi para alunos do oitavo ano; Júlia ( de blusa amarelo-mostarda ) está no primeiro ano do ensino médio e como em anos anteriores ela participou ativamente, nesse ano recebeu o convite para mediar alguns fóruns que tratam de questões atuais, por vezes polêmicas da sociedade. Ela se envolveu, pesquisou, se preparou, chorou de emoção por ser seu último evento nesta escola ( vamos nos mudar em breve ).
Mas, não é sobre o evento que quero falar e sim sobre um assunto que dá título à essa postagem.
"Mãe, você é feminista?"
A pergunta foi feita pela minha filha há alguns anos e essa fotografia, as conversas que tive com ela sobre o evento me suscitaram a abordar o tema.
A resposta imediata que eu dei foi um balançar de cabeça nem pra lá, meio para cá, arregalei um pouco os olhos e aí ela me interrompeu:
"Já sei, já sei que é uma resposta complexa, demorada e agora eu tenho que voltar para a escola, em outro momento conversamos!"
Não e sim. Começamos dessa forma o diálogo.
Não sou feminista e sou feminista.
A avó paterna da Júlia, hoje com 94 anos sempre conta histórias da infância dela e se recorda com imenso carinho.
"Ele era um homem muito bom, mandou fazer escola lá na fazenda, trouxe professora, mandava fazer merenda para as crianças, mas eu e minha irmã, ele não deixava ir para a escola, só os meninos podiam. Ela tinha muito medo que a gente escrevesse carta pra namorado."
Cresceu e viveu analfabeta a minha sogra. Então eu sou feminista.
Contei-lhe de uma situação onde a Júlia ainda não era nascida.
Eu estava com o Bernardo em uma livraria numa palestra sobre algum tema ligado ao feminismo. Em algum momento ele deve ter feito alguma birra, algum choro e eu fiz algo para acalmá-lo quando ouvi uma voz vindo detrás:
"Ai que nojo de menino, de mãe de menino, por isso que os homens são essas m@#*das que são". Então eu não sou feminista.
Na minha juventude eu li um livro que foi impactante para mim - Flor do Deserto. Escrito por uma modelo de um país africano onde se pratica até hoje a extirpação do clitóris das meninas, a sangue frio, com navalhas sujas e enferrujadas. As que sobrevivem carregam sofrimento intenso ( são costuradas a sangue frio também de qualquer jeito ).
Pelas meninas do nosso Brasil invisível que se casam aos 11, 12 anos, pelas meninas africanas que sofrem tamanha violência com essas mutilações, pelas que são privadas de acesso à escola, ao exercício de uma profissão, eu sou feminista.
Com a disseminação de conversas, encontros pela internet, participei de alguns ligados ao movimento feminista e aprendi muita coisa.
O feminismo é diverso. Há inúmeras causas. Há o feminismo camponês, o feminismo indígena, evangélico, católico, feminismo negro... e também o feminismo radical que, ao meu ver, contamina muito das boas causas.
Mães de meninos, são demonizadas. Dona de casa é um ser abominável, completamente incompatível com o feminismo, segundo as radicais. Ou seja, onde a base de qualquer movimento seja o ódio, para mim não funciona.
Minha filha entendeu perfeitamente meu posicionamento. Disse já haver percebido esse ódio que separa e gera conflitos.
É maravilhoso ver que a sociedade está mudando, mas que seja com base, firme e sólida no amor.
Ana,em primeiro lugar, adorei a foto e tão bom ver a Julia engajada nesses eventos. Pena ela ficou triste por ser o último na escola...Mudanças à vista? Quando der me "enfronha",rs Curiosa a velhinha,né?
ResponderExcluirE quanto ao texto e pergunta, foste brilhante nas respostas. Mostrastes muito bem a complexidade de dizer SIM ou Não... Nesse caso, muito bem mostrado e exemplificado, temos justificadamente os DOIS! Vale sempre muito passar aqui e te ler! beijos pra todos! chica
Bom olhar por todos os ângulos e aprender que a realidade pode ser mudada. Tem como ser diferente diante desta que parece uma compulsão por ser ou não feminista. O melhor é ser forte.
ResponderExcluirAna Paula, a foto da Júlia com as meninas, inspirando os dizeres do cartaz, me deixou feliz por vê-las fortes e corajosas.
Beijo!!
Renata e Laura
Ana quanta inspiração e empenho, que vai além de uma simples resposta...
ResponderExcluirFaz os filhos perceber o que está além de uma palavra, um significado, é tocar a alma, é despertar...
O budismo tem um ensinamento desse tipo, onde os monges são ensinados a não tocar nas mulheres, porém se você ver uma se afogar você ajuda ou segue a regra... enfim, esse é o sentido, avaliar o que está além do que podemos ver... É tirar as travas dos olhos, é ver o essencial aos olhos e ter como motivação o amor e não o ódio.
Lindo de viver o post, a foto...
Beijos doces,
Ju