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Malala e a volta às aulas

Minha filha está num misto de ansiedade e felicidade para a volta às aulas que se dará na próxima segunda-feira, dia 28.
Um novo ciclo se inicia para ela, agora o ensino médio; há vontade de rever os colegas, conhecer os novos professores e aprender - ela me disse que gosta muito de aprender coisas novas!


Já arrumou e desarrumou inúmeras vezes a mochila!

Os amigos dela aqui do prédio, iniciaram as aulas nesta semana, mais precisamente, ontem, dia 21. E minha filha perguntou-me se eu encontrei com a "galera" no caminho, pois levei nosso cachorro para passear no horário que eles estão indo a escola.
Disse a ela que não vi ninguém e embora tenha achado estranho, falou que pode ter se equivocado e as aulas dos amigos começariam hoje, terça-feira. Pediu-me que eu ficasse atenta durante o passeio matinal.

Novamente encontrei o caminho sem alunos. Então à tarde ela desceu para a quadra e encontrou com os amigos. Quando subiu, chegou com ares de indignação:

" _ Mãe, você não vai acreditar... Ninguém foi para a aula, que começou mesmo ontem. Eles combinaram que vão faltar a semana inteira. Não foram ontem, nem hoje e nem irão o resto da semana."

Quando meus filhos eram bem pequenos, tivemos o privilégio de morar de frente para um centro cultural onde havia uma biblioteca. Foram tempos maravilhosos e muito bem aproveitados. Bastava atravessar a rua e trazer na sacolinha de pano, três livros a serem devolvidos em uma semana com a possibilidade de renovação. A biblioteca recebia recursos da pasta da Educação e também da Cultura, portanto era bem abastecida.

Entre livros infantis, certo dia encontrei um livro de fotografia do Sebastião Salgado e nem acreditei que eu poderia levá-lo para casa!

Livro lindo onde se misturavam beleza, tristeza, reflexões. Fotografias de Sebastião e texto do ex-senador da República, Cristóvan Buarque.


As fotos eram de várias escolas ao redor do mundo.



Alunos sentados no chão, aulas debaixo de uma árvore, pouquíssimos recursos, abundância de amor dos professores, sede de aprendizado.

Mesmo sendo pequenas, as crianças olharam atentas as fotografias. Entenderam o sofrimento de localidades em extrema pobreza e viram nos olhinhos de outras crianças tão iguais a eles, a alegria de aprender.

Ainda hoje eles recordam dessas imagens e das conversas que tivemos enquanto foleávamos o livro.

Talvez eu use um termo incorreto, mas é a minha percepção. Parece haver atualmente  um movimento contra a escola; enfatiza-se que ela não serve para nada, é desconectada da realidade e nesse pacote, os professores perderam o seu valor.

Lembro-me de um dia ouvir de dois alunos que caminhavam bem à minha frente. "Que saco, é meu pai que quer que eu estude nesse Polilixo ( o nome da escola começa com Poli ).
E falei para meus filhos sobre esse desprezo pela escola.

Meu filho Bernardo me disse: "ih mãe, a maioria pensa assim". E quando eu questionei o por quê desse desprezo, ele me respondeu que é porque o acesso à escola é muito fácil e ninguém valoriza.

Lembrei-me de Malala, a garota paquistanesa que luta pela possibilidade da educação de meninas em seu país, e em tantos outros. Onde a escola é escassa, inacessível, há a valorização, o sonho. Aqui que a temos disponível, há o desprezo.

Lembrei-me de minha sogra, que por ser mulher, teve sua educação escolar negada. Apenas seus irmãos homens frequentaram a escola.

Lembrei-me de ter aprendido nos livros de História que a educação era um privilégio da nobreza e a escola pública, com todos os seus desafios, é uma enorme conquista.

Temos tantos professores Brasil adentro, fazendo um trabalho lindo, mas eles não saem nos destaques, nos noticiários. 

Várias vezes eu ouvi de meu filho que ele não gostava de tal matéria, mas ele ia, participava porque o professor tinha tido o trabalho de preparar aquela aula. Aquilo me emocionava.

Mas a emoção veio mesmo quando eu ouvi, num domingo desse janeiro, uma professora de meu filho, elogiá-lo pela dedicação que ele teve com as aulas dela, afinal não era lá a matéria favorita dele!


Professora Sol e Bernardo

Eu vejo a escola como uma direito conquistado. Com seus desafios sim, mas não algo desprezível. Mudanças são necessárias, mas o tanto de aprendizado que se ganha numa escola... eu acho imensurável, porque não é só o acadêmico, crescemos em todos os sentidos.

Quero muito saber a opinião de vocês. Não tenha receio de dizer que é divergente da minha. Vou ficar muito feliz. E seguimos conversando!
















Comentários

  1. Ana, tua lucidez é demais...Textos sempre maravilhosos! Aqui as aulas dia 18 fevereiro.E, mesmo assim, na primeira semana e seguintes, teremos muitos alunos que apoiados pelos pais, esticararão as férias até depois do Carnaval. Sempre acontece. Neno também observa e reprova.
    E por aqui, nas escolas, a moda das reclamações e críticas contra os professores são frequentes.Esquecem o trabalho ,os baixos salários e tantas outras coisas que os mestres são obrigados a aguentar. Muitos alunos, prepotentes, se dirigem sem o menor respeito e dizem aos professores que eles tem obrigação de ensinar e fazer isso e aquilo ,já que são pagos pelos seus pais, portanto, empregados... De cair o queixo!

    Tomara recebam o devido respeito e carinho! Desejo ótimo novo ano pra Júlia e ADOREI a mochila dela! bjs praianos,chica

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  2. Ana, tudo bem?
    Maria estuda ha 10 anos na mesma escola. Minha mãe aos 18 anos foi postulante nessa mesma escola. Então quando a conheci fiquei maravilhada. Uma estrutura ampla, antiga... Minha mãe havia passado por aqueles corredores..
    Nesse tempo nunca fiz uma reclamação, pq valorizo cada passo da escola apesar de saber que não é perfeita. Sempre conversei com Maria e até hoje falo algumas vezes ao despedir dela: Obedece a professora...
    Maria soltou mais sua fala aos 2 anos na escola, se socializou la, aprendeu muito.. Veio lendo de la e me emocionei...
    Temos professores que pra mim não deveriam fazer parte do corpo docente, outros que abraço e elogio. Ontem mesmo depois da primeira reunião geral das boas vindas e informações aos pais, fui abraçar uma professora novata que Maria apaixonou. Ela se sentiu tão feliz pela receptividade, pois estava dando aula de geografia e ano passado era um professor muito querido então ela ficou com receio. Com meu abraço se sentiu feliz e bem melhor... Ou seja.. vejo as limitações da escola, sonho com alguns ideais, mas também valorizo todo esforço dos professores, funcionarios e diretores.
    Maria adora a escola e ficou como Júlia, ansiosa pra voltar, arrumando seus materiais, Graças a Deus...
    E como você bem relatou, quantos não tiveram oportunidade desse aprendizado e entrosamento tão importante na vida da criança, do jovem.

    Quanto a Sebastião Salgado é um ícone da fotografia, das fotos profundas e emocionantes. Meu marido adora.. Tem um livro lindo dele....

    Um beijo Ana e parabéns aos seus meninos que respeitam os professores, e se entusiasmam por cada volta do ano letivo...

    Obs. Amanhã temos nossa BC....

    Um beijo

    Tê e Maria ♥

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