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Florescer em meio às adversidades

Eu devia estar deixando a adolescência e iniciando a minha juventude quando descobri/aprendi que a palavra crise, no ideograma chinês, trazia consigo o significado de oportunidade. Toda crise então, carregava em si uma oportunidade, talvez ainda não revelada. Por um certo tempo, aquilo me serviu. Um emprego em que eu não era chamada, ou quando era demitida, lá estava a oportunidade de algo maior. O mesmo para algum "paquera" que não dava em nada, certamente haveria uma outra, uma melhor oportunidade me aguardando lá na frente. A palavra crise dos chineses não me serviu quando a crise era muito mais que uma crise. Um luto, uma traição... nestes casos era difícil enxergar uma oportunidade lá na frente. Perder um pai, uma mãe, um filho. Que oportunidade haveria nisso? Senti que era raso aquilo que por um tempo havia me servido. Cresci sendo ensinada a ser uma boa pessoa; rezar; bater três vezes na madeira para não atrair coisa ruim; pular ondas; vestir a cor certa para um ano inesquecível. Não me ensinaram a estar, a ficar, a vivenciar a adversidade para então, com a aceitação, poder florescer. Queremos todos evitar o sofrimento e buscar a felicidade. Eu demorei quase meio século para olhar o sofrimento nos olhos e não me afastar, não fugir. Acolher o indesejável não é simples. É muito mais simples as diversas maneiras de fuga que utilizamos, nós, a própria sociedade. Basta olhar: um fora da namorada e os garotos já partem para se divertir, beber e esquecer, conhecer outras garotas. Compras no shopping ou mesmo online, comida em excesso, maratonas de séries e filmes. É fácil fugir das adversidades, há inúmeras opções. Ficar e encontrar significado, ou mesmo não encontrar e apenas confiar é que é complicado. Numa blogagem anterior falamos do benefício da frustração na criação de nossos filhos e, ensiná-los a florescer em meio às adversidades é um passo grandioso e necessário, porém precisamos primeiro, nós mesmos dar esses passos, conhecer esse caminho para depois poder conduzí-los. Tenho treinado acolher o indesejável que me surge. Ficar, permanecer com aquela sensação desagradável. Nossa cultura não aprecia isto, mas é fácil observar que, fugir sempre do desconforto, nos faz errar de novo e de novo e novamente... é como se não aprendêssemos a lição e assim teremos que repetí-la. Há vários segredinhos que venho ensinando a mim mesma e aos meus filhos e quero partilhá-los com vocês! Quando as águas da vida estão serenas, é neste momento que temos que praticar. Praticar o quê? O que muitas de vocês já fazem! Contemplar a natureza, sorrir, se alegrar com a alegria dos outros, nutrir nossa criança interior com uma poesia, uma dança, uma brincadeira. Tudo isso prepara nossos corações para momentos de dificuldades. Acho que o mais importante é compreendermos e ensinarmos que a vida é mudança e que nós sofremos porque não queremos que ela mude. Há juventude e há velhice, há saúde e há doença, há nascimentos e há mortes. Nosso problema é que queremos ficar só com o lado bom. E um lado só existe porque há o outro também. A impernamência, a mudança, fazem parte da vida e precisamos apreciar isto. Eu acredito que desta forma vamos preparando cuidadosamente nossos corações e quando as adversidades chegarem, haverá sim tristeza, dor, mas haverá espaço para deixar que novamente a vida volte a fluir e pulsar. Quando olhamos para uma árvore sem nenhuma folha, nem flor, apenas caule, ela até parece sem vida. Porém está lá: o potencial do florescimento está ali. A primavera esttá batendo à porta. Nas ruas, ainda com a pandemia em andamento, árvores já estão florescendo. Nós temos essa mesma semente em nós, a semente do florescer! Acolher o indesejável é um livro de florescimento que eu estou a ler. Talvez até traga novamente esse assunto em algum momento. Que a gente nunca se esqueça que todos nós temos a capacidade de florescer! Obrigada Cris e Tê - Prosa de Mãe e Bolhinhas de Sabão para Maria - por mais esta oportunidade. Obrigada a você que me lê e me acrescenta, me ensina com teu comentário.
Deixo também meu pedido de desculpas por não estar conseguindo interagir com vocês. Ainda não consigo fazê-lo pelo celular e as aulas online da Júlia levam o computador até à noite... mas esse já é um outro assunto!

Comentários

  1. Ana, te ler sempre faz bem... Entendi perfeitamente quando falaste que a palavra crise , é bem pior quando não é apenas uma crise...Quando é ponto final, como a morte. Perdi irmã aos 15,senti na pela e também não vi nenhum significado em ter que passar por aquilo, muito menos nela ter sido levada tão cedo, aos 19. Depois fui entender que ela ,de tão boa, já havia cumprido seu tempo aqui. E assim foi... Na vida passamos por coisas inimagináveis., as depois da pancada, subimos à tona novamente. Ainda bem... Aprender a acolher o indesejável e por ele passar...Tuas palavras sempre fortes e vibrantes, recheadas de verdades! Adorei! beijos, tudo de bom, chica

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  2. Ana querida, primeiramente não precisa se desculpar porque todos tem suas demandas e devemos entendê-las. Veja a mim. Sempre fui uma das primeiras a comentar e ja levar o link. Fazia isso pela manhã bem cedinho. Hoje minha demanda de trabalho não permite...
    Mas o importante é estar aqui em algum momento.
    Como sei que você quando consegue também participa pq você gosta... Isso é bom! :)

    Estar aqui é sempre aprendizado.. Viajo e meu pensamento e coração vão longes...
    Palavras de sabedoria e conforto que sempre trago pra mim...
    Já disse.. queria estar pertinho pra vivenciar isso com cafezinhos infindos...

    Obrigada pelo ensinamento... Devemos sempre nos restaurar para poder ensinar os nossos filhos o que aprendemos... é preciso sair coisas boas do coração, caso contrario não conseguiremos ensinar..

    Sim, queremos só coisas boas... mas a vida tem outros lados que são necessários viver.. e o bom retornar quando percebemos que estamos de pé apesar de.... e conseguimos florescer em meio a todas essas adversidades...

    Só uma observação: A palavra crise dos chinêses também seria dificil de aplicar quando pai e mãe partiram... só aí conhece uma das maiores adversidades da vida até minha idade adulta...

    Obrigada pelo esforço da participação. É sempre um refrigério estar aqui..

    Beijos grandões..

    Tê e Maria ♥

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  3. Contemplar a natureza, sorrir, se alegrar com a alegria dos outros, nutrir nossa criança interior com uma poesia, uma dança, uma brincadeira.

    Boa tarde de muita paz, querida amiga Ana Paula!
    O recorte que fiz acima combina com o que penso e vivo.
    Se bem adversidade, saio a caminhar, faço poesia....
    Como alivia.
    Não já como um dia após o outro.
    Vamos florescendo, a vida é um lindo jardim e fazemos parte desse canteiro..
    Tenha dias abençoados!
    Bjm carinhoso e fraterno

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  4. Boa tarde, Ana Paula!

    A semente, verdadeiramente, está em cada um de nós, para não nos deixar caídos ante aos golpes da vida como a morte, por exemplo, quando bate na família. Conforme Chica e Teresinha comentaram.

    Semente que cresce, nos torna mais maduros e suficientes para enxergar além da casca que reveste a pérola. E fazer com que perscrutemos minuciosa, humilde e plenamente a simpatia pela vida que em nós habita.

    Muito bom estar aqui sempre.

    Beijo!

    Renata e Laura

    Ia me esquecendo de contar que hoje o notebook tornou-se um pouquinho mais meu que da Laura! É feriado de aniversário da cidade, ganhei o note de volta, só hoje! rsrs

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  5. Ana Paula, é sempre muito bom ler suas postagens.
    Um mergulho em algumas memórias pessoais, através das tuas palavras.
    Nem tudo na vida é como desejamos e planejamos, não fácil lidar com as adversidades, algumas só com muita fé e a crença de que tudo passa e tudo tem um porque.

    Quanto você não estar conseguindo interagir é compreensível, já que os filhos estão usando o computador, eu consigo fazer os comentários pelo celular, já as postagens só pelo computador mesmo. Mas o mais importante é que sua "casa" está de portas abertas e você sempre nos recebe com uma boa prosa.

    Um abraço,
    Sônia

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  6. Uma bela e profunda participação Ana, com este olhar antenado com estas ilustrações tão bem elencadas de situações onde aprendemos entre os altos e baixos desta vida. O possibilitar e permitir-se ser e crescer diante as adversidades. O tema é muito bonito e aqui floresceu em reflexões perfeitas e profundas, que me faz aplaudir e agradecer pela partilha nesta BC muito interessante, que faço questão de acompanhar.
    Abraços com carinho Ana.

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  7. Minha querida Ana,
    Que texto inspirador.... escrito em meio ao aprendizado das adversidades. E como temos o que aprender!
    Pois, nós não temos de fato o hábito de enfrentar e tirar aprendizados das coisas difíceis, não sei se por impulso, mas tendemos a fugir dos problemas.
    A fuga aos nossos olhos parece ser mais fácil do que encarar, do que resolver. Mas, na verdade só adia...
    Quando você falou da árvore sem folha... me tocou muito!
    Porque tendemos a ver a falta e não o que sustenta, o que dá a firmeza e que com a chegada de uma outra estação tudo floresce.
    Amei!!
    Te leria muitoooooo mais!!
    bjs, Cris

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  8. Ana, que bálsamo para os olhos, coração, alma!
    Eu me encontro em suas palavras, em seus sentimentos, coração...
    Exatamente isso, somente aprendemos quando a gente "vivência"!
    Somente conseguimos compartilhar verdadeiramente aquilo que a gente aprendeu na teoria, mas depois foi apurar na prática, e esconder as mazelas, as dores, só piora, só adia os desafios e os problemas... Por isso tem a frase: tudo que a gente resiste, persiste!
    Tudo que a gente não enfrentar, não chorar, aprender, vai voltar...
    Linda, maravilhosa postagem.
    Gratidão por suas palavras, sua amizade...
    Amei sua postagem, parece uma "Carta De Deus".
    Beijos no coração,
    Ju

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