"Meu pai vinha dos interrogatórios da polícia e falava dos pássaros que vira no caminho". Tenho esta frase escrita num pedaço de papel, uma folha arrancada de algum caderno. Na pressa em anotar, não coloquei o nome da autora, mas ainda me lembro do contexto - era um podcast de entrevista. A moça em questão, mulher feita hoje, falava do pai nos tempos da ditadura. Era uma criança à época e ficou marcada por esta atitude do pai. A página do calendário mudou hoje. Iniciamos abril, entre cansaço, tristeza, ainda esperança nesta pandemia que parece ainda estar longe de cessar. A frase acima reverberou em meu coração. Aquele pai dos pássaros no caminho só pode falar deles porque tocou a dor. Não negou, não fingiu que estava tudo bem. Tocar e ser tocado pela dor e sofrimento abriu-lhe o olhar para a beleza, para os pássaros no caminho... Outras pessoas, especialmente através dos blogs, me ensinaram também a olhar as flores pelo caminho depois de momentos difíceis, os céus co...