Bernardo, Você devia ter entre seis ou sete meses, eu te carregava grudadinho em meu corpo, no que se chamava de bebê-canguru. Era uma tarde de domingo, e isso eu me lembro bem porque havia uma feira no caminho que percorríamos até o parque. Parei para comprar meia dúzia de bananas quando um mendigo se aproximou de nós. Eu já ia me esquivando pois, certamente o homem pediria dinheiro. E essa foi a primeira frase dele - "Moça, eu não quero dinheiro não. Deixa só eu olhar o seu bebê". Aquele homem sujo, grande, de feições abrutalhadas, barba enorme, cabelo desgrenhado, fétido, cheio de roupas sobrepostas, falou-nos com tal suavidade na voz... deixa só eu olhar o seu bebê. Os olhos que compunham uma face sulcada de rugas e sofrimentos, tinham uma luz e ele foi trazendo uma delicadeza para seus gestos, as mãos, a cabeça que se inclinava para te olhar melhor, o corpo todo que pareceu apequenar-se para estar perto de você. Foi então que ele me pediu - "Moça,...